José Marello e a Congregação dos Oblatos de São José (História - Capítulo I)


O CAMINHO PERCORRIDO PELA CONGREGAÇÃO
DOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ
NOS SEUS PRIMEIROS
CINQUENTA ANOS DE HISTÓRIA
 1878 - 1930

CAPÍTULO I
JOSÉ MARELLO E A CONGREGAÇÃO DOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ

1 - A história da Congregação dos Oblatos de São José está estreitamente ligada, em suas origens, à pessoa de São José Marello, o qual, como seu Fundador, a dirigiu por 17 anos, desde o ano de 1878 até o ano de 1895, quando morreu. José Marello viveu na segunda metade do século XIX, século que proporcionou muitos santos fundadores que se dedicaram particularmente às obras de caridade. Seguindo o exemplo de tantos fundadores do seu tempo e até mesmo da sua região, José Marello foi levado pelo princípio da caridade a fundar a Congregação dos Oblatos de São José. Não resta dúvida de que foi a caridade o estímulo principal de suas atividades, dentre as quais destaca-se a obra no Asilo de Santa Chiara com uma pequena escola em anexo para proporcionar os estudos para as crianças órfãs e abandonadas.


2 - A ação da Congregação nascente deve ser vista não somente à luz da caridade porque nasceu entre a juventude abandonada da “Pia obra do Michelerio” e depois se desenvolveu no Asilo de Santa Chiara, mas também porque propunha a evangelização no mundo operário, particularmente com a catequese para os jovens trabalhadores. Nesse sentido, podemos dizer que o Fundador Marello foi efetivamente um homem do seu tempo e para o seu tempo, e tudo isto fundamentado numa consistente vida interior. É verdade que o florescimento de novos institutos religiosos, tanto masculinos como femininos, no tempo do Fundador respondia adequadamente às exigências da pastoral assistencial daquele tempo, porém exigia como pressuposto uma forte espiritualidade, particularmente proporcionada pelas devoções da época, tais como a devoção Eucarística, a devoção Mariana e a devoção Josefina. Entretanto, o fato de São José Marello ter manifestado o desejo de possuir uma vida contemplativa é importante e deve ser levado em consideração. Logo esse aspecto tipicamente de consagração a Deus fez com que ele quisesse, para os membros de sua Congregação, a possibilidade de seguir de perto o Divino Mestre com observância dos conselhos evangélicos.


3 - São José Marello tem palavras de altíssima estima para a vida religiosa, ele mesmo afirma que a vida religiosa é uma vida de perfeição e visa a alcançar a meta da santidade (Escritos p.215). Afirma ainda que os conselhos evangélicos devem ser praticados por certo número de cristãos em todos os tempos, caso contrário, Jesus Cristo teria falado em vão(Carta 94). Diante dessas palavras, fica bem claro que ele vê na vida de consagração a Deus algo necessário que precisava ressurgir na cidade de Asti, depois da tempestade das leis de supressão da vida religiosa que a havia cancelado durante o século XIX. Basta dizer que os Jesuítas foram suprimidos pela primeira vez na Itália, no ano de 1773, depois foram suspensos novamente em 1814. Em seguida, em 1848, veio uma nova lei que declarava ilegais e dissolvidas todas as comunidades religiosas dos Jesuítas e de algumas Congregações religiosas masculinas tidas como filiadas aos Jesuítas. Em maio de 1855, foi publicada uma nova lei que suprimia outras 21 Ordens e Congregações masculinas e 13 femininas. Somente nessa vez, o governo de Turim fechou 335 casas, as quais compreendiam 5.489 religiosos e religiosas. Todas essas comunidades foram dissolvidas e todos os seus bens foram confiscados. Os edifícios foram destinados para atividades profanas (quartéis, escolas, tribunais, hospitais, depósitos, estábulos, etc.) e muitos destes foram vendidos. Conhecendo o panorama histórico desfavorável à Igreja, pode-se compreender melhor a afirmação de Marello em sua carta 94 “... esforcemos-nos em favorecer, apesar dos impedimentos do mundo, o estado de vida mais perfeito”.


4 - Marello se ressentiu do valor da vida consagrada e quis que os membros da sua Congregação, a qual no início ele denominava de “Companhia de São José”, tivessem como inspiração o pai nutrício de Jesus, o qual foi o primeiro modelo da vida religiosa, pois teve constantemente diante dos seus olhos aquele exemplo divino que o Pai Eterno, com toda sua misericórdia, quis enviar ao mundo para que ensinasse o caminho do céu.1  “De fato, se a vida religiosa é a total opção por Cristo, como afirmou o Papa João Paulo II, ninguém fez uma melhor opção total por Ele que São José, ninguém amou Cristo mais do que ele, ninguém serviu Cristo melhor do que ele, ninguém se sacrificou por Cristo mais do que ele... Uma vez eleito São José como modelo para a vida dos Oblatos, o restante foi consequência: estabelecer com Cristo e com Maria o mesmo relacionamento que teve São José, imitar as virtudes de São José no espírito de serviço e na sua disponibilidade para fazer sempre a vontade de Deus. Desta conformidade à vontade de Deus, segundo o modelo de São José, parece-me que seja o ideal de vida pessoal do Fundador, a origem do seu Instituto e o seu carisma”.2


5 - Na metade do século XIX, encontramos no Piemonte João Bosco, Leonardo Murialdo, Francisco Faà de Bruno, os quais foram Fundadores de Congregações, preocupados com a promoção humana. Nessa mesma linha da caridade estava a mola  mestra da ação de Marello em Asti com o trabalho na casa de acolhida de Santa Chiara que compreendia um Asilo destinado para os idosos e um orfanato para as crianças e jovens pobres, os quais recebiam também a catequese.


6 - Enquanto tinha no coração o desejo de um trabalho de ação social e formativo, Marello pensava também em dedicar-se à vida religiosa. Era seu desejo ser trapista e a prova disso está que nos meses em que esteve em Roma por ocasião do Concílio Vaticano I, visitou o mosteiro trapista Tre Fontane e no mesmo ano, de Roma, foi também a Montecassino, berço da vida monástica do Ocidente. O seu amor à vida monástica estava ligado ao fato da supressão das Ordens religiosas decretada em julho de 1866, tendo dentre as primeiras a desaparecer a antiquíssima Cartuxa, existente em Asti desde 1387. Por isso, ele tinha em seu coração o desejo de fazer reflorescer a vida religiosa em Asti e na diocese, a qual depois desses acontecimentos ressentia a falta de religiosos. Além do mais, em Asti, as mulheres que desejassem consagrar-se a Deus tinham a estrada aberta dentre as quais a Obra Pia Milliavacca, fundada em 1713, a Obra Pia Isnardi, fundada em 1764, a Obra das Telline, fundada em 1839, portanto, não era novidade que no hospital de Asti trabalhavam as “Irmãs da Caridade” e no Asilo em Costigliole, trabalhavam as “Filhas da Caridade”. Para os homens, contudo, não havia nenhum instituto religioso. Sentindo esse vácuo, Marello escreve em 1877: ”Industriemo-nos para agilizar, malgrado os empecilhos do mundo, também para os homens, quaisquer que sejam as suas condições, aquilo que é tanto e tão variavelmente fácil para as mulheres: o estado de vida mais perfeito”. Para esse seu projeto, ele via São José como o modelo da vida religiosa para ser imitado na humildade e na laboriosidade. Assim, no dia 14 de março de 1878, pela sua iniciativa e com a aprovação de Dom Carlo Savio, surgia uma Pia Associação como nome de “Irmãos de São José” tendo como objetivo principal a educação da juventude. Esse objetivo se concretizou com a acolhida de jovens em Santa Chiara, ensinando-lhes nas escolas e formando-os nas catequeses paroquiais.


7 - Marello quis a sua Congregação edificada nas bases sólidas da obediência, conforme tinha escrito no seu primeiro intento em formar uma “Companhia de Leigos” em 1872: ”A caridade é o vínculo da unidade e a obediência a sua salvaguarda”. Portanto, o princípio fundamental dessa Companhia de leigos era a submissão incondicionada às disposições superiores. A respeito dos ensinamentos que Marello dava sobre São José aos seus, afirma Pe. Cortona que se pode reduzir a dois grandes temas: 1- Vida escondida   (Vida escondida com Cristo em Deus). 2- Imitação de São José no abandono à vontade de Deus, permanecendo sempre na escuta da sua Palavra. Para Marello era preciso viver cada dia segundo as disposições da Providência, fazendo o que ela nos sugerir, a exemplo de São José.


8 - Os dois temas acima mencionados: vida escondida e imitação de São José nortearam todas as suas atividades apostólicas, sabendo ver, como São José viu o “aceno de Deus nos acontecimentos”. De fato, foi o seu bispo, Dom Savio quem lhe indicou a necessidade da Igreja contar com leigos bem preparados para ajudar os párocos como sacristãos, catequistas, cantores e foi isso que fizeram, tanto é verdade que quando se abriu o acesso ao sacerdócio os membros da “Companhia de São José”, esses continuaram com o trabalho de ajuda aos párocos, como catequistas, sacristãos, etc. Com o bispo, Dom Ronco, os Oblatos prestavam serviços nas paróquias vacantes e mais pobres da diocese tornando esse trabalho cada vez mais exigente. O apostolado do catecismo para a juventude permaneceu também uma constante na pastoral dos Oblatos como testemunha Pe. Cortona ao escrever em 1920 o prefácio de suas “Breves Memórias”. 3 


9 - Portanto, podemos dizer que três razões fundamentais estão presentes na Fundação da Congregação: 1- Espiritual-Pessoal - Marello pensava em ser religioso trapista para viver uma vida de perfeição. 2- Teológica - Revalorizar a prática dos conselhos evangélicos depois que muitas Ordens religiosas tinham sido suprimidas. 3- Pastoral - A situação da juventude abandonada que pedia formação. Conjuntamente com isso, havia a necessidade da ação social (idosos abandonados) e a dedicação especial aos mais necessitados, à imitação de São José.


10 - José Marello tinha com o seu intuito de Fundador o compromisso apostólico do bem comum e do serviço aos últimos, tendo como modelo São José. Por isso, ao fundar a Congregação, colocou como meta geral a educação cristã da juventude e a ajuda ao clero diocesano nas diversas maneiras ditadas pela divina Providência. Dessa forma, os primeiros membros da Congregação de São José viviam em um Asilo de doentes crônicos, dentro de uma casa que não era propriedade deles. Nessa casa, eles eram conhecidos como “Os Irmãos do Asilo de Santa Chiara”, e apesar de trabalharem com grande laboriosidade abandonando-se nas mãos da Divina Providência, eles eram quase nada, a ponto do Fundador escrever: “Pobres Josefinos do Asilo dos doentes crônicos, sacerdotes menores não sois nada e não tendes daquelas denominadas posições para o futuro, entretanto o Senhor se serve também de vós para o bem das almas. Digam somente ‘Servi inutiles sumus’...” 4 


11 - Os Irmãos Oblatos viviam em conformidade com a espiritualidade de muitos institutos nascidos naquela época, de tal forma que nas Regras dos Oblatos de São José de 1892, dizia: “Quem  ingressa na Congregação saiba que  entra em uma casa de pobres e que por amor a Jesus, que se fez pobre por nós, deve estar inteiramente disposto a se submeter a todas as privações de uma verdadeira e real pobreza, seja na comida, seja na roupa, seja na moradia e não somente naquilo que diz respeito às coisas supérfluas, mas também naquelas necessárias”.5 


12 - Marello, ao infundir o carisma josefino à sua Congregação foi impelido por algumas razões muito particulares, dentre as quais, a razão de ordem espiritual-pessoal, pois como sabemos, quando ainda era jovem sacerdote manifestou a intenção de se tornar contemplativo em virtude do seu forte desejo de perfeição que permeava tanto os seus pensamentos como as suas ações. Uma segunda razão foi de ordem teológica, pois ele queria restabelecer a prática dos conselhos evangélicos em Asti depois que as Ordens religiosas tinham sido suprimidas na Itália, privando a cidade de Asti de muitas comunidades religiosas. Para ele, a prática dos conselhos evangélicos era um elemento necessário para a Igreja. Houve ainda uma terceira razão que foi de ordem pastoral, sobretudo porque a situação da juventude abandonada daquele tempo exigia formação, pois naquelas circunstâncias a situação da ignorância de grande parte da juventude impulsionava para a criação de centros educativos a fim de dar para a juventude uma formação humana e cristã. Além do mais, a situação de muitas paróquias carentes de pessoal e de apoio necessários para a pregação, a liturgia, os sacramentos, fez com que Marello sentisse a necessidade de provê-la de bons leigos. Diante dessas três razões, é preciso que nos perguntemos se não houve também uma razão de ordem social, visto que grande parte da atividade do Marello e também dos primeiros Oblatos se concretizou no cuidado para com os pobres, os idosos e os jovens abandonados, para os quais dedicou todas as suas forças para o funcionamento de um Asilo, uma pequena escola e um orfanato dentro do ex-mosteiro de Santa Chiara, em Asti. Diante dessa pergunta, é preferível pensar que tais realizações foram frutos de sua espiritualidade e de sua sede de fazer o bem. De fato, as Constituições dos Oblatos de São José preparadas em 1969 e aprovadas em 1987, colocaram a predileção pelos pobres como o modo de trabalhar na imitação de São José “prestando especial atenção para os mais necessitados6, e não como a finalidade da Congregação. A finalidade da Congregação continua sendo essencialmente “ministerial”, como era a vida de São José, com o Guarda do Redentor.7 Por isso, a Congregação é chamada ao trabalho, de preferência dos lugares mais humildes e entre as pessoas com mais necessidades, sejam espirituais ou materiais.


13 - A Congregação nasceu como fruto de muitas experiências do campo social e religioso do Marello, particularmente devido às suas primeiras experiências eclesiais no início do seu sacerdócio, na convivência com seu bispo, Dom Carlo Savio, do qual era secretário. Além disso, influenciou-lhe também as expectativas da realização do Concílio Vaticano I (1870) a partir do qual ele viu a abertura da Igreja para o futuro. De fato, ele participou do Concílio e permaneceu em Roma por 8 meses vivendo o clima deste Concílio e esperando que, em março daquele ano, o Papa proclamasse São José o Patrono da Igreja Universal, por isso ele vislumbrava neste Santo o modelo para os consagrados se dedicarem aos interesses de Jesus na Igreja. Nesse contexto, São José tornou-se o ícone de inspiração para projetar a “Companhia de São José”, promotora dos interesses de Jesus.


14 - De fato, a Congregação surgiu como “Companhia de São José”, sendo uma Associação como as outras presentes na Itália. Nesta Companhia não haveria nenhum vínculo especial entre os seus membros a não ser a caridade e estes, teriam como inspiração São José,  o primeiro a cuidar dos interesses de Jesus.


15 - No ano de 1872, Marello já tinha o desejo de fundar uma Companhia que fosse promotora dos interesses de Jesus, pois ele via a necessidade de fazer alguma coisa de concreto na  Igreja, por isso ele escreveu: “Em uma espantosa variedade de formas o reino de Deus vem demolido, procuremos realizar em tudo o nosso trabalho de restauração” Para essa Companhia, Marello propunha um programa e estilo a serem realizados nestas suas palavras: “Cada um tome as próprias inspirações do seu modelo São José, que foi o primeiro na terra a cuidar dos interesses de Jesus”. Todos podiam fazer parte desta Companhia, bastando o propósito de terem, como ele, a comunhão dos interesses de Jesus. O projeto da “Companhia de São José” tinha finalidades próprias das outras Associações de leigos que cuidavam dos interesses de Jesus com a ação pastoral, com a oração pessoal e comunitária, com a obediência ao Papa e ao Bispo e no empenho de colocar à disposição boas leituras para a formação, possivelmente criando um “empório católico”. Por dificuldades práticas, esse sonho do Marello de formar a “Companhia de São José” não pôde ser realizado, mas em 1877,  tudo já estava pronto para que ele passasse à ação, na criação de sua Companhia, muito embora não tivesse ainda nada de concreto exteriormente para os primeiros passos (nenhuma casa, nenhum grupo de jovens...), apenas tinha procurado algumas vocações escrevendo aos amigos que porventura as tivessem. A esta altura, já havia passado 5 anos que trabalhava no Michelerio dirigindo a Adoração Eucarística aos operários e jovens, foi então que o cônego Giovanni Cerutti, diretor desta obra, ofereceu-lhe uma sala para abrigar as primeiras vocações em troca de serviços a serem prestados dentro da mesma.


16 - A primeira vocação para a sua Companhia foi Giorgio Medico (23 anos) do qual Marello era confessor. Este tinha estado antes no seminário diocesano de Asti, mas em 1877, tinha saído. Com a sua entrada e com mais outros três  jovens: Pietro Luigi Biamino, de 20 anos de idade, Giuseppe Luigi Rey, de 18 anos e Vincenzo Franco, com 44 anos, internos do Michelerio, Marello iniciou a “Companhia”, no dia 14 de março de 1878.


17 - Logo em seguida, entraram outros dois: Giuseppe Capussotto, de 27 anos de idade, camponês, um pouco rude, mas simples e piedoso e Francesco Ponzo, de 20 anos de idade, alfaiate. Ainda neste ano, entrou Giovanni Batista Cortona, de 23 anos de idade, o qual tinha sido porteiro por alguns meses no Michelerio. Cortona será depois aquele que desempenhará uma função muito importante na vida da Congregação. Desses cinco, apenas Giorgio Medico e Giovanni Cortona perseveraram.


18 - A Congregação iniciada por Marello foi fruto de várias experiências vividas no tempo de sua juventude no campo social, religioso e especialmente de suas experiências eclesiais durante os primeiros anos de sacerdócio como secretário de Dom Carlo Savio. Poucos dias antes de partir para Roma, acompanhando Dom Savio como seu secretário, escrevia ao seu amigo Estevão Rossetti: “Peço intensamente as suas orações...”8 isso demonstra que Marello previa na sua presença em Roma uma ocasião preciosa para descobrir a vontade de Deus sobre o caminho do futuro do seu sacerdócio. Durante os oito meses que permaneceu em Roma, ele escreveu várias cartas para os seus amigos e para o seu pai, em duas delas falou expressamente do Concílio com muito entusiasmo como se tivesse encontrado uma primeira resposta para as suas expectativas anteriores. Na carta número 62, escrita ao seu amigo Giuseppe Riccio, previa a possibilidade de que São José fosse proclamado o Patrono da Igreja Universal, proclamação esta que ocorreu no dia 8 de dezembro de 1870. Este acontecimento foi uma ocasião preciosa, pois havia escrito, em preparação da festa de São José do ano anterior: “Tu, ó José, que depois da virgem bendita, foste o primeiro a apertar o Redentor Jesus, sê o nosso modelo em nosso ministério, que, como o teu é de relação íntima com o Verbo Divino...” 9. Proclamar São José o Patrono da Igreja Universal foi para ele uma ocasião clara  para olhar com bons olhos a Igreja e todos os necessitados e preparar-se para cuidar, a exemplo de São José, dos “interesses de Jesus”.


19 - O serviço à Igreja na imitação de São José se tornou a base espiritual e carismática proposta por Marello para os seus Oblatos; uma base maturada mediante a sua interioridade e as experiências vivenciadas entre os anos de 1870 e 1877, quando decidiu dar início à Fundação. Já anteriormente, no ano de 1872, tinha visto em São José o modelo para a Fundação da “Companhia de São José, promotora dos interesses de Jesus “. Esta, na mente do Marello, devia ser uma Associação semelhante às outras que estavam surgindo em vários lugares da Itália, as quais tinham dentre as suas iniciativas aquelas de favorecer as obras católicas como a propagação da fé, a adoração perpétua, as festas religiosas, as obras de caridade, as bibliotecas populares, os círculos para a juventude, as obras de piedade, etc. De fato, o programa da “Companhia de São José”, proposto por Marello, era muito semelhante às referidas Associações. Nesta Companhia os seus membros não teriam nenhum vínculo especial a não ser o vínculo espiritual da caridade. Cada um devia tomar as próprias inspirações no modelo São José, o primeiro sobre a terra a cuidar dos interesses de Jesus.10


20 - O tempo em que Marello vivia era muito difícil para a Igreja, tempo de contestações e de contínuas ofensas à Igreja e ao Papa. Tal situação foi muito sentida por ele, por isso escreveu em 1872, “... de uma maneira espantosa se demole o Reino de Deus...” 11. Isso era para ele um desafio para fazer alguma coisa à Igreja e à sociedade, desafio tal como ele pensava enquanto jovem quando se encontrava em Turim e sonhava construir um “novo sistema de economia social12, sonho que não morreu, mas o alimentou durante os anos de Teologia, porém com novos pontos de vista13, colocando Deus em primeiro lugar e deixando-se guiar pelos princípios da fé da caridade cristã. Na verdade, o desejo do Marello realizar algo de significativo na Igreja e sociedade foi crescendo sempre mais dentro dele, até que depois do Concílio Vaticano I veio a descobrir as linhas programáticas de sua ação e o caminho para a realização deste seu desejo  tornou-se mais claro, particularmente depois da morte do seu pai, em 1873, quando ele se questionava se devia se consagrar totalmente a Deus num mosteiro ou se era chamado para a algo de novo no mundo. A resposta para o seu questionamento se tornou mais clara com os conselhos do seu bispo Carlo Savio e de outras pessoas iluminadas como o padre Felice Carpignano, diretor espiritual de Dom Sávio, como também de Pe. Luigi Anglesio, superior da Pequena Casa da Divina Providência de Turim. Com o auxílio dos conselhos destas pessoas, Marello pôde, finalmente, fazer o primeiro esboço da regra fundamental de sua Congregação e com coragem dava início a um programa o qual era fruto de uma longa evolução dos anos precedentes.